MESTRE ZUENIR VENTURA sobre Henrique Gravatá

Zuenir VenturaZUENIR VENTURA .

Zuenir Ventura Foto: O Globo

À saúde de Henriquinho

Sugerem que eu não seja muito pessimista, deixando mensagem de esperança para a plateia. O pedido faz sentido, porque pessimismo é o que mais está sendo oferecido

Vocês devem ter lido anteontem a reportagem de Caio Barretto Briso sobre o menino Henrique, de 11 anos, com leucemia. A propósito, recebi de meu amigo Luiz Gravatá uma mensagem em que diz: “Henriquinho é filho de meu querido primo Raul e há dois anos luta contra uma terrível doença que hoje só tem uma esperança de cura: o transplante de medula. A partir de seus colegas de colégio, houve uma enorme mobilização para que pessoas se inscrevam no Hemorio e demais centros onde podem ser feitos os testes de doação. Henriquinho é um menino maravilhoso, estudante exemplar, muito querido por todos”.

A partir de uma foto dele na internet e a revelação de seu drama, surgiu um impressionante movimento de solidariedade, que está envolvendo milhares de anônimos e muitas celebridades. Luiz Gravatá lembra que Reynaldo Gianecchini, que se salvou graças a um transplante, é um dos apoiadores da campanha. No seu caso, a medula óssea foi do próprio corpo. Outros que já manifestaram seu apoio: Camila Amado, Carlinhos Lyra, Fernanda Montenegro, Francisco Cuoco, Fred, do Fluminense, Neymar e Sérgio Moro, o juiz. Moro enviou para Henrique um vídeo em que, ao lado da mulher, Rosângela, anuncia que vai se cadastrar como doador de medula, porque isso “pode salvar uma vida”. Termina com uma conclamação: “Força, Henrique, estamos torcendo por você”.

Loulou et Marisa

Loulou de la Falaise: The Legend

Although she is best known as the longtime muse of fashion designer Yves Saint Laurent, Loulou de la Falaise had a signature aesthetic that was all her own. “Loulou was a walking art piece,” writes Marisa Berenson in Loulou de la Falaise, a new book published by Rizzoli. “I always remember her as having the most unique style.” Berenson isn’t the only one to share her respects for de la Falaise, who passed away in 2011 at the age of 63. “She was a great icon,” recalled Marianne Faithfull. “She was infinitely elegant,” addedCatherine Deneuve. “The last time I saw her, we hung out all night and had such good fun,” wrote Kate Moss. Memories like these are dotted throughout the book by Sofia Coppola, Pierre Berge, Grace Jones and more, alongside photographs documenting her days as an effortlessly chic model, mother, and entrepreneur.

 

Loulou de la Falaise by Ariel de Ravenel and Natasha Fraser-Cavassoni, $65,

MURILO MENDES – 40 anos…

MAPA

Me colaram no tempo, me puseram
uma alma viva e um corpo desconjuntado. Estou
limitado ao norte pelos sentidos, ao sul pelo medo,
a leste pelo Apóstolo São Paulo, a oeste pela minha educação.

[…..]

Andarei no ar.
Estarei em todos os nascimentos e em todas as agonias,
me aninharei nos recantos do corpo da noiva,
na cabeça dos artistas doentes, dos revolucionários.
Tudo transparecerá:
vulcões de ódio, explosões de amor, outras caras aparecerão na terra,
o vento que vem da eternidade suspenderá os passos
dançarei na luz dos relâmpagos, beijarei sete mulheres
vibrarei nos cangerês do mar, abraçarei as almas no ar
me insinuarei nos quatro cantos do mundo.

Almas desesperadas eu vos amo. Almas insatisfeitas, ardentes.
Detesto os que se tapeiam,
os que brincam de cabra-cega com a vida, os homens “práticos”. ..
Viva São Francisco e vários suicidas e amantes suicidas,
os soldados que perderam a batalha, as mães bem mães,
as fêmeas bem fêmeas, os doidos bem doidos.
Vivam os transfigurados, ou porque eram perfeitos ou porque jejuavam muito.
viva eu, que inauguro no mundo o estado de bagunça transcendente.
Sou a presa do homem que fui há vinte anos passados,
dos amores raros que tive,
vida de planos ardentes, desertos vibrando sob os dedos do amor,
tudo é ritmo do cérebro do poeta. Não me inscrevo em nenhuma teoria,
estou no ar,
na alma dos criminosos, dos amantes desesperados,
no meu quarto modesto da praia de Botafogo,
no pensamento dos homens que movem o mundo,
nem triste nem alegre, chama com dois olhos andando,
sempre em transformação.

Murilo Mendes (*Juiz de Fora, 1901-+Lisboa, 1975), com Jorge de Lima e Mario Faustino são os meus Poetas (brasileiros), do coração e da alma.
Não que eu não ame profundamente João Cabral e Drummond (a quem muito homenageio aqui no Sub Rosa), o grande Manuel Bandeira, Mario de Andrade.e mais alguns outros….mas Murilo é diferente, especialíssimo.
Murilo jamais escreveu um verso ou poema banal. Foi barroco e surrealista. Moderno e tradicional; sempre mantendo uma independência e um certo desprezo, pelo enquadramento dos manifestos.
Veio à luz, como poeta, no mesmo ano (1930) que Drummond, e foi logo saudado por Mario de Andrade. Em tudo, Murilo foi revolucionário. Até sua conversão para o cristianismo, tão incompreendida na polaridade angelismo/demonismo foi, ao contrário, um ato de resistência, (que estava ao mesmo tempo acontecendo na Europa, principalmente na França) e não se tratava de aceitação e sim, uma nova proposição: a saber, a proposta de um catolicismo mais voltado para os problemas humanos, terrenos.

Satírico, irônico, é dele o que já se viu atribuído a Oswald de Andrade:

“O homem
é o único animal que joga no bicho”

que depois renegaria:-)

Em 1941, conheceu Maria da Saudade Cortesão, filha do grande historiador português, Jaime Cortesão, exilado no Brasil.
Seis anos depois Murilo e Saudade casaram-se.
Em 1956, ele e Saudade mudaram-se para a Itália e Murilo foi ser professor de Cultura Portuguesa, na Universidade de Roma.
O casal formou um círculo lítero-artístisco-cultural (no mesmo prédio morava Audrey Hepburn, amiga do casal), freqüentado por músicos, artistas plásticos, atores, homens de letras e artes; críticos, como o linguista Roman Jakobson, que muito o admirava.

Influenciou e foi reverenciado por alguns dos maiores poetas brasileiros de sua época. Foi um arrebanhador de poetas futuros.

Com seus poemas , grafittis e murilogramas, o Poeta era apenas e sempre *o Poeta*.
Um Imperador das Palavras, que sofreu, se atormentou sempre, com o descaso e a indiferença com que o Brasil costuma tratar e dedicar a seus filhos grandiosos.

“Não sou brasileiro, nem russo nem chinês,
Sou da terra que me diz NÃO eternamente-
Eu sou terrivelmente do mundo”

Sobre Murilo Mendes é rezar -os que não tem a ventura de ter suas Obras Completas , ou seja TODOS NÓS – pois há muita cois inédita de Murilo. Daí a demora de uma nova Edição. Há muita coisa publicada em Prosa e VERSO.
Mas o livro imprescindível é o de LAÍS CORRERA DE ARAÚJO. Da Editora Perspectiva.
ARAUJO> Laís Corrêa de. Murilo mendes. S. Paulo, Perspectiva. 2000. Col. Signos, 29.

Enquanto isso, o livro traz uma Antologia, Ensaios, Iconografia extensa Bibliografia, e a Correspondência trocada entre a estudiosa e o Poeta.
Murilo era grande Amigo dos mais expressivos Poetas portugeseses à sua época, pois lá viveu e morreu… Procurem conhecer JANELAS VERDES.
Uau! Quem não tiver – e realmente esteja ou querira estar *in* coisas poeticas, não é poeta nem nada se não correr e ir procurar um imediatamente;-)
Dersafio feito!.

Augusto de Campos – Prêmio Neruda dePoesia

http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,augusto-de-campos-ganha-premio-no-chile-e-lanca-novo-livro,1712644

Outro’ é o primeiro volume de poemas inéditos do poeta em 12 anos

Está marcado para o próximo dia 3 de agosto, às 19h, o lançamento em São Paulo do novo livro de poemas de Augusto de Campos, Outro – o primeiro em 12 anos. Como o Estado adiantou no início de junho, o livro tem texto, capa, projeto e execução gráfica do próprio autor. O lançamento ocorre na Casa das Rosas (Av. Paulista, 37).

Nesta terça-feira, 23, o poeta foi agraciado com o Prêmio Iberoamericano de Poesia Pablo Neruda, concedido pelo governo chileno. “O reconhecimento também contribui a dar visibilidade a autores de excelente nível, cuja obras às vezes é pouco conhecida fora de seus países de origem”, disse o ministro da Cultura do Chile, Ernesto Ottone, na entrega do prêmio – dotado de um diploma, uma medalha e US$ 60 mil.

Augusto de Campos
Augusto de Campos

Segundo os jurados, os poemas de Campos se destacam “por sua transversalidade, ao serem transferidos para formatos como o audiovisual, a computação gráfica e inclusive a música”.

Entre os premiados anteriores, se encontram Nicanor Parra, Óscar Hahn e José Emilio Pacheco. / AP


DACS / 1978, estate of Duncan Grant, courtesy of Henrietta Garnett and Paul Roche; National Portrait Gallery, London
Vanessa Bell (née Stephen)  by Duncan Grant
oil on canvas, circa 1916-1917
50 in. x 40 in. (1270 mm x 1016 mm)
Purchased, 1982
NPG 5541

Copyright © 2003 Estate of the Artist, Courtesy of Henrietta Garnett.Angelica Playing the Violin, 1934 by Duncan Grant

Falando de Amor

Por Marcelo Ferlin Assami
Poder do Amor sobre o Universo
Eustache Le Sueur – L’Amour ordonne à Mercure d’annoncer son pouvoir à l’Univers, Eustache le Sueur,1644, Musée du Louvre.

O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.”  (ICoríntios 13 :6)

“Volto à Bíblia para falar de amor porque em nenhuma obra moderna encontro equivalente. O papel hoje recebe impressão de terapias, de críticas, de ódio, tudo disfarçado de amor.
Amor, hoje, só nas letras de música do pop, e com sofrimento.
Não terminei ainda a Comédia, mas no final de cada parte, Dante insiste em ver estrelas, e encerra a obra com o verso: “l’amor che move il sole e l’altre stelle”.
Caminho pelas ruas de São Paulo, o que para os cínicos parece um verdadeiro exercício de amor, e me pego transbordado, cheio dessa sensação de olhar para prédios, carros, árvores e pessoas e sentir-se bem, sentir carinho, satisfação, interesse.
E sem deixar de ver a feiúra, física ou moral, a sujeira do centro, a gritaria dos que não sabem falar. A cidade com nome de santo é mesmo uma ilha do purgatório, como disse alguém que ouve Nick Cave cantando “Here Comes the Sun”.
Há muita maldade no mundo, há muita maledicência na rede, e, se perco meu tempo apontado o ridículo dos líderes, tento sempre recusar o ódio.
E é fácil odiar. A indignação moral é o primeiro passo para aceitar o ódio. Você pode subir a escada ou pode descer, onde encontrará outra tentação, o desespero. O desespero é cinzento? Ele arde em quem foi consumido pelo ódio sem nada ter produzido nem alcançado com isso.
E há os que sobem a escada, os que construíram grandes coisas com seu ódio e com sua indignação moral. Estes são peões de obra. Um cavalheiro não odeia, debocha. Um cavalheiro se recusa a tal trabalho de pedreiro.
Para quem acha cavalheirismo coisa de fresco ou para quem não entende o que é ser cavalheiro, mais um versículo:

“Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” 1 Coríntios 14: 20
As crianças amam e odeiam facilmente, mas nenhum engenho frutifica da malícia infantil. Nada constróem com seus ódios. E, se cabe mais uma digressão, o fundamento do cavalheiro é o fair play, a existência não é uma brincadeira, mas a vida humana, a vida que levamos, está bem longe de ser séria, e me recuso a ser envenenado.
Atravesso as ruas e penso no que se repete ao longo dos dias. Todo dia parece necessário dizer ao próximo: você não é obrigado a nada, você é livre, todas as suas preocupações são responsabilidades suas, você sabe que pode parar de fazer da própria vida o seu inferno.
E não abro a boca para dizer nada disso. Por timidez? Por querer publicar mais um livro de auto-ajuda e forrar o cu de dinheiro? Talvez, mas também por respeito. Que eu ame as pessoas, isso não me cega, há mais disposição para falar e reclamar do que para ouvir.
A fala não tem sido o melhor instrumento. A escrita muito menos, o ódio tem mais aceitação, mesmo nos blogs, que o amor.
E, no entanto, é o amor que move as estrelas.”
-=-=-=-=-

O Sebo – Carlos Drummond de Andrade

(Para o Alfredo Bragança)

O SEBO

O amigo informa que a cidade tem mais um sebo. Exulto com a boa-nova e corro ao endereço indicado. Ressalvada a resistência heróica de um Carlos Ribeiro, de um Roberto Cunha e pouco mais, os sebos cariocas foram se acabando, cedendo lugar a lojas sofisticadas, onde o livro é exposto como artigo de moda, e há volumes mais chamativos do que as mais doidas gravatas, antes objeto de decoração, do que de leitura.
Para onde foram os livros usados, os que tinham na capa este visgo publicitário, as brochuras encardidas, as encadernações de pobre, os folhetos, as revistas do tempo de Rodrigues Alves? Tudo isso também é “gente”, na cidade das letras, e como “gente”, ninho de surpresas: no mar de obras condenadas ao esquecimento, pesca-se às vezes o livrinho raro, não digo raro de todo, pois o faro do mercador arguto o escondeu atrás do balcão, e destina-o a Plínio Doyle, ao Mindlin paulista ou à Library of Congress, que não dorme no ponto… mas pelo menos, o relativamente raro, sobretudo aquele volumeco imprevisto, que não andávamos catando, e que nos pede para tirá-lo dali, pois está ligado a circunstâncias de nossa vida : operação de resgate, a que procedemos com alguma ternura. Vem para a minha estante, Marcelo Gama, amigo velho, ou antes, volta para ela, de onde não devias ter saído; sumiste porque naqueles tempos me faltou dinheiro para levar a namorada ao cinema, e tive de sacrificar-te, ou foi um pilantra que me pediu emprestado e não te devolveu? Perdão, Marcelo, mas por 5 cruzeiros terei de novo a tua companhia.
Matutando no desaparecimento de tantos sebos ilustres, inclusive o do Brasielas chego a este novo. É agradavelmente desarrumado, mas não muito, como convém ao gênero de comércio, para deixar o freguês à vontade. Os fregueses, mesmo não se dando a conhecer uns aos outros, são todos conhecidos como frequentadores crônicos de sebo. Caras peculiares. Em geral usam roupas escuras, de certo uso ( como os livros ), falam baixo, andam devagar. Uns têm a ponta dos dedos ressecada e gretada pela alergia à poeira, mas que remédio, se a poeira é o preço de uma alegria bibliográfica?
Formam uma confraria silenciosa, que procura sempre e infatigavelmente uma pérola ou um diamante setecentista, elzeveriano, sabendo que não o encontrará nunca entre aqueles restos de literatura, mas qualquer encontro a satisfaz. Procurar, mesmo não achando, é ótimo. Não há a primeira edição dos Lusíadas mas há do Eu, e cumpre negociá-la com discrição, para que o vizinho não desconfie do achado e nos suplante com o seu poder econômico. À falta da primeira, a segunda, ou outro livro qualquer, cujo preço já é uma sugestão: “Me leva”. Lá em casa não cabe mais nem aviso de conta de luz, tanto mais que as listas telefônicas estão ocupando lugar dos dicionários, mas o frequentador de sebo leva assim mesmo o volume, que não irá folhear. A mulher espera-o zangada: “Trouxe mais uma porcaria pra casa!”. Porcaria? Tem um verso que nos comoveu, quando a gente se comovia fácil, tem uma vinheta, um traço particular, um agrado só para nós, e basta.
A inenarrável prosmicuidade dos sebos! Dante em contubérnio com o relatório do Ministro da Fazenda, os eleatas junto do almanaque de palavras cruzadas, Tolstói e Cornélio Pires, Mandrake e Sóror Juana Inés de la Cruz… Nenhum deles reclama. A paz é absoluta. O sebo é a verdadeira democracia, para não dizer: uma igreja de todos os santos, inclusive os demônios, confraternizados e humildes. Saio dele com um pacote de novidades velhas, e a sensação de que visitei, não um cemitério de papel, mas o território livre do espírito, contra o qual não prevalecerá nenhuma forma de opressão.

Carlos Drummond de Andrade in: O Poder Ultra-Jovem

Clarice

“Brevity is the soul of wit”. Shakespeare. Hamlet.Act 2, Scene 2

Para Ryta e para Vera.

Em 11 de dezembro de 1970, Clarice Lispector escreveu essa carta para Olga Borelli, escritora, professora, sua amiga, secretária e acompanhante.,

“Eu achei, sim, uma nova amiga. Mas você sae perdendo. Sou uma pessoa insegura, indecisa, sem rumo na vida, sem leme para me guiar: na verdade não sei o que fazer comigo. Sou uma pessoa muito medrosa. Tenho problemas reais gravíssimos que depois lhe contarei. E outros problemas, esses de personalidade. Você me quer como amiga mesmo assim?

“Se quer, não me diga que não lhe avisei. Não tenho qualidades, só tenho fragilidades. Mas ás vezes (não repare na acentuação, quem acentua pra mim é o tipógrafo) mas às vezes tenho esperança. A passagem da vida para a morte me assusta: é igual como passar do ódio que tem um objetivo e é limitado, para o amor que é ilimitado. Quando eu morrer (modo de dizer) espero que você esteja perto. Você me pareceu uma pessoa de enorme sensibilidade, mas forte.

“Vc foi o meu melhor presente de aniversário. Porque no dia 10, quinta-feira era meu aniversário e ganhei de você o Menino Jesus que parece uma criança alegre brincando no seu berço tosco.  Apesar de, sem você saber, ter me dado um presente de aniversário, continuo achando que meu presente de aniversário foi você mesma aparecer, numa hora difícil, de grande solidão.

“Precisamos conversar. Acontece que eu achava que nada mais tinha jeito. Então  vi um anúncio de uma água de colônia da Coty, chamada Imprevisto. O perfume é barato. Mas me serviu para me lembrar que o inesperado bom também acontece. E sempre que estou desanimada, ponho em mim o Imprevisto. Me dá sorte. Você, por exemplo, não era prevista. E eu imprevistamente aceitei a tarde de autógrafos. Sua, Clarice”

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Não sei nada sobre a vida, mas…  a única coisa que eu sei, é que a vida é muito pouco pra tudo o que eu desejo e preciso aprender. E sei que amo a Vida. Sem apego, mas com zelo. Tenho, às vezes, vontade, mas não, não tenho inclinação para o suicídio.
O resultado disso é que é espantoso:  viver, ter relações comigo mesma, descobrir tantas coisas, grandes e pequenas, não me esconder de mim mesma, (e às vezes, isso é terrível) me fez  desenvolver  uma habilidade singular, meu olho (quase) só vê a beleza, a delicadeza de um mundo de pessoas gentis. Pessoas elegantes (lat. elègans ‘que sabe escolher; bem escolhido). Consigo ver à distância o que é bom, o que é bonito, o que tem valor. Mesmo que esse valor esteja muuuito escondido. Preciso muito de ser assim, e agradeço por ser assim, pois como não morrer de tristeza, quando há tanta coisa feia nesse mundo, ao redor, ao perto e ao longe. Aqui mesmo no Facebook, tenho descoberto a chamada banalidade do maldizer. Fora a transgressão e o crime… mas só estou enumerando para tornar significativo o meu olho para a delicadeza. Sei que parece meio infantil, meio idiota, mas eu sublinho, reforço, passo o highlight sempre na alegria de encontrar um mundo tecido de delicadezas.  E ser alvo de delicadezas.? E aí onde você estiver, tenho a certeza de que… E a política, Ryta,?  É algo que me atropela, e me mata, e  Verinha,   e o terror do  “mal-entendido… acho que é a unica coisa nesta vida que me faz desistir de tudo e achar que nada vale a pena. Quando prevalece o mal-entendido e o julgamento precipitado.  O mal-entendido e seu gêmeo, ‘o calar-se’, encerrar-se na ofensa (pretensa, muita vez)  não dizer nada.  Mal-entendido é para ser desfeito, ao menor sinal de dúvida, pergunte. Enfim, o que temos quase sempre: o horror! o horror!. E  um ror de coisas mais. Eu quero agradecer a vocês duas, hoje, e , por favor, recebam esse agradecimento, a vida é tão curta,  e se eu não aproveitar o momento, pode acontecer de eu nunca mais ter oportunidade de dizer como me sinto sendo alvo de uma atenção que se traduz por sentimentos de valia, eu que vivo sempre no limiar do achar que nada mais tem jeito.

Um poeta espanhol que eu amo muito, Juan Jose Jiménez (1811-1958), poeta de los poetas cunhou a frase que me tem servido de lema de vida, e como não terei epitáfio, queria ser lembrada por ela. “ Não sou eu que escolho o melhor; o melhor é que me escolhe.”
Vivo sempre como se me restasse pouquíssimo tempo de vida, e precisasse ver toda a beleza. Pessoas desabrochando. Florescendo. Expressando o seu *melhor*.
Paulo Francis, uma de minhas paixões irrecorríveis, (OK, há que se ter coragem pra dizer isso nos tempos atuais, diga lá?… ‘pero soy uma chica con clase’) Francis costumava dizer, nos últimos tempos, todos sabem, que se sentia tecnicamente morto. Eu , se passar um dia sem que tenha descoberto algo de bom, papa fina, como se dizia antes, algo de que eu possa falar bem, sou vice-morta, só quase viva.
Não, não se trata de “só falar bem” do que  é escrito ou criado, (*) a diferença é sutil, o que eu quero é escrever acerca do que realmente é bom e tentar mostrar porque o que é bom …  é bom.
Um dia alguém descobrirá isso , ou ninguém descobrirá e minha vida terá sido em vão. Se descobrirem captarão a ânsia que pauta até o próprio ato de (eu) respirar…
‘Viver nunca foi pra mim uma calma tessitura de dias que se juntam hesitantemente a outros dias, plácido trabalho, lentíssima costura…’ sou ansiosa, às vezes, não paro pra ser gentil, tenho um gênio danado de danado,  tenho urgências e corro o mais rápido que posso, para chegar aonde? Ao que você, eles, os que são meu outro, faça ou crie e que seja algo original (se é que existe o… original), que você escreva ou crie o melhor. Anseio pelo melhor que cada um tem. Não por ética ou religião. Por instinto. Sou só no mundo (é assim que se é, mas …) Por isso sou ansiosa.
O que fazer com a ânsia, se viver começa pela paciência da espera? A escrita começa pela paciência da espera. A música começa pela vitória sobre a pausa. (depois da paciência da espera). Quem é músico sabe, quem é escritor sabe.
Eu apenas ardo e espero.
* * *
(*) A propósito, faço crítica literária. Ou seria melhor dizer  que “já fiz crítica literária?  E é terrível, porque, se não lidamos bem com o insucesso e perdas, parece que nos damos pior ainda com o sucesso, com alguém mostrando que somos *o cara*, que se é bom, em alguma coisa. As pessoas ficam embaraçadas, dizem que é “generosidade”, que não são isso que se diz; que “não são essa coca-cola toda” como me disse uma vez uma “criticada”-)) Agora, afora isso, há também os.que acham que só é bom crítico aquele que fala mal (crítico bom é ‘crítico cruel’, o que desce (ou mete) o “pau” hmmm… Masoch perde) Ambos os tipos esquecem algo sobre a origem da crítica que remonta aos três trágicos, você sabe, aqueles Ésquilo, Eurípedes, Sófocles. Acredite, se quiser, crítica não é assim. Não era (para ser) assim.

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(*) Você acha que existe alguém ‘modesto’?. Já existiu? Existirá? Dizem que há teorias tentando provar que modéstia, modéstia mesmo é coisa abstratissíssississima, que nunca existiu e dizem mesmo que ninguém sabe até hoje, quem foi que inventou: no que inventou, mentiu… dizem, eu não sei. Só sei que se for verdade, ninguém peca por imodéstia, não é?

Aos meus professores. Todos.

Hoje é o dia Professor!
Há pessoas que não gostam (ou dizem não gostar) dessas datas comemorativas. Eu gosto. E tenho explicado por que gosto.
Bem entendido, eu gosto de datas em que se *co-memora* ou *re-memora* a força pessoal, subjetiva ou coletiva, empregada pelo homem na transformação da espécie humana, do seu ambiente, e no melhoramento da Vida em geral.
Isto tem a ver, suponho, com o que Dostoiévski, em os Irmãos Karamázov, aponta:
Em todo homem, é claro, habita um demônio oculto: o demônio da cólera, o demônio da luxúria sem peias; o demônio do prazer voluptuoso frente aos gritos da vítima Continuar lendo